Clamores da política partidária têm reivindicado de viva voz
e através de propaganda difundida por vários meios o mote:
No combate à epidemia,
nem um direito a menos!
É um lema muito bonito, fixa-se e passa-se facilmente como
produto de bom marketing, mas é praticamente oco. Serve para marcar presença,
mobilizar pessoas para uma coisa sem sentido, embora as mentes menos
privilegiadas sonhem estar a lutar por alguma coisa válida.
O governo teve uma actuação, ligeiramente tardia e bastante
desorganizada da parte do ministério da saúde em relação ao combate à pandemia.
Não obstante, a actividade do governo é merecedora de grande elogio comparada
com a de países maiores, mais ricos, com melhores condições técnicas.
Mas isso teve um custo.
As vidas que a governação de António Costa e a presidência
de Marcelo Rebelo de Sousa salvaram têm um custo. Somos nós todos, cidadãos
portugueses, que temos que suportar o custo da manutenção da vida dos nossos
pais, avós, filhos, cônjuges que não morreram. E a nossa própria vida. A mesma
sorte não tiveram os holandeses, britânicos e muitos outros.
E os danos da epidemia teriam sido bem menores se determinadas
pessoas (pessoa, família?) não tivessem cometido a imprudência de ir a Milão
numa ocasião que já era de perigo. Essas pessoas introduziram a epidemia em
Portugal, no Norte, e as gentes do Norte estão a pagar essa imprudência. Essas pessoas
deveriam ter sido logo confinadas a quarentena obrigatória. Mas talvez ninguém
imaginasse as consequências. E a pandemia disseminou-se por todo o país.
A economia parou quase completamente. O governo assumiu
despesas com assistência social a muitos casos de empobrecimento devido à
pandemia. Temos que pagar. Todos nós, porque não se pode escolher quem é infectado
nem quem morre.
E se formos prejudicados nas férias a que temos direito? Bem,
o primeiro direito inerente a toda a pessoa é a vida. É o primeiro e maior bem
que possuímos. É preferível viver sem férias que ir de caixão para a praia ou
para o estádio de futebol.
O governo é imensamente pressionado para que haja praia,
para que o futebol reate a fim de que o Porto não seja campeão, etc. É um
facto, diz-vos este sportinguista.
De facto, é necessário produzir para haver dinheiro. Mas sempre
dentro do bom senso. Países que não pararam, não estão melhor que os outros,
porque a economia global parou.
As palhaçadas no Brasil e nos Estados Unidos não passam
disso mesmo, palhaçadas. Por esta afirmação pedimos a devida desculpa aos que
são palhaços de verdade, profissionais ou amadores.
Nos anos de 1974, 1975 e seguintes, movimentos muito semelhantes
a este “no combate à pandemia, nem um direito a menos”, que reclamavam
legitimamente maior justiça social nas empresas, acabaram por levar à falência negócios
que eram o ganha-pão de milhares de famílias e criaram situação de pobreza e
miséria especialmente no Distrito de Setúbal.
E foi necessário um Bispo
católico, que foi apedrejado por esses revolucionários na sua tomada de posse
na Sé de Setúbal, para matar a fome a essas famílias, restituir-lhes alguma
dignidade e angariar apoios fora do Distrito para colmatar o mal que andava a ser
feito. O reconhecimento que posteriormente lhe foi prestado pelos ditos
revolucionários, não evitou o sofrimento das famílias que foram desgraçadas,
nem trouxe de volta o ouro do Tesouro Nacional que foi enviado para o
estrangeiro, ainda hoje não se sabe bem se vendido, se quê.
A Alemanha recuperou da II Guerra Mundial com um esforço de
todos, prescindindo de quase tudo e o mesmo aconteceu em muitos outros países e
territórios. (Aliás, foi da mesma maneira que iniciaram esta guerra, com os
casais a oferecerem ao Estado as próprias alianças de casamento, contribuindo
para o esforço nacional de guerra ao mundo)
Os que clamam por “no combate à pandemia, nem um direito a
menos”, deviam manifestar um expresso agradecimento ao governo pelas medidas
tomadas, corrigir-lhe fraternalmente, em solidariedade nacional, os erros
cometidos, mas nunca enveredar por excitar as pessoas a ponto de se poder
enveredar por uma situação de miséria semelhante à de 1975 em Setúbal.
Colaboremos todos na reabilitação da economia nacional, na
eliminação da corrupção e dos falsos profetas, continuando a viver a política
nacional em democracia e solidariedade.
Orlando de Carvalho
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