Se pretendermos distribuir os padres por categorias… descobriremos uma imensa quantidade delas. Que aumentam, na medida em que podemos classifica-los segundo diferentes critérios.
Para os fiéis, trata-se essencialmente de os dividir em bons e maus padres. O que é irrisório, primeiro, quem dá esse direito de julgamento? Depois, quantos maus padres, na sabedoria (ignorância) popular são bons padres na Sabedoria de Deus? E vice-versa.
Creio que um dos melhores meios de os agruparmos será levando em conta os dons que o Espírito Santo derramou sobre eles e a utilização que deles fazem. O que levanta a questão de como descobrir quais são os dons que o Espírito Santo derrama numa pessoa. É claro que não podemos saber, que língua de fogo foi destinada ao coração de uma pessoa, mas Jesus ensinou um método bastante prático: pelos frutos se conhece a árvore.
Há padres com o dom da palavra, na pregação ou no confessionário, há padres empreendedores na construção de igrejas, centros paroquiais e sociais e outras estruturas, há padres que se enquadram menos no organigrama da comunidade eclesial e se aventuram nos bairros onde proliferam os “pobres de Cristo”, drogados, prostitutas e prostitutos, pequenos ladrões e carteiristas, gente que não tem comida para pôr na mesa aos filhos e gente que tem que se enfileirar na sopa dos pobres, padres missionários na sua terra e ad gentes (nas chamadas terras de missão).
O jovem Carlos dos Santos tinha a grande aspiração de ser missionário, mas não terá sido esse o projecto de Deus para ele. Embora me pareça que o dom da missão terá sido derramado sobre ele pelo Espírito Santo, com várias outras virtudes.
O missionário é o que vai ao encontro do outro, melhor seria dizer ao encontro do irmão, por mais diferentes que sejam. Jesus não veio ao encontro dos meninos bem comportados, dos homens justos e honestos, mas de Pedro e Judas que o traíram, da pobre prostituta que salvou de ser apedrejada e da Samaritana que era tão azarada nas suas ligações maritais, de Mateus e de Zaqueu que cobravam impostos aos seus compatriotas em favor dos invasores romanos.
Na comunidade paroquial de São Domingos de Benfica, além de se acolher quem quer que fosse pedir ajuda, estava estabelecida uma organização que procurava aqueles que precisavam de ajuda e aqueles que tinham enveredado por maus caminhos, para os ajudar, não para os recriminar.
O folheto reproduzido aqui é um convite às crianças, ergo, às famílias para o retomar das férias depois do Verão, ou mesmo convite para uma primeira aproximação à catequese paroquial.
Ao contrário de muitas paróquias onde encontramos, infelizmente, párocos sentados, por vezes em reuniões, os chamados “padres de gabinete” queixando-se das pessoas que não aparecem nas missas, nem na catequese, nem em nada, apenas para os sacramentos, eles não entenderam que a função não é ficar protegido dentro das paredes da igreja, à espera.
Também não é função dos padres trabalharem para a estatística que apresentam ao Bispo, e que muitas vezes está falseada, como fazem os políticos.
É preciso entrar no mundo das pessoas e convidá-las, e insistir. Eles não sabem, muitos nunca chegam a descobrir, que a maior parte das pessoas, quando é tratada com cordialidade, sem acusações e é convidada, acaba por aceitar o convite. Nem sempre. Mas ainda sobra a parte que o Espírito Santo tem que fazer nesse chamamento.
Neste sentido, o Padre Carlos é ainda um exemplo para todos os párocos.
Orlando de Carvalho
Não quero categorizar, não me compete julgar. Limito-me ao fundo sentimento de saudade que o Pe Carlos deixou em mim como aquele amigo com quem podia abrir o coração com dúvidas e esperanças, alentos e desalentos e encontrava sempre a palavra fraterna, o estímulo encorajador, a atitude cristã - muito mais difícil de ter do que julgamos, no nosso olhar demasiado ligeiro. Ele pensava em todos, desdobrava-se em iniciativas, era afetuoso, sincero, desejoso do Bem.
ResponderEliminarConheci-o em 1969, na minha juventude. Continua ainda comigo, na comunhão dos santos.