quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Advento é sempre (2)



Temos insistido, desde há muito tempo, no engano que muitas vezes são as comemorações. De que serve comemorar o aniversário de alguém de quem eu falo mal nas costas? De que serve dar prendas de aniversário a alguém que eu trato mal? De que serve levar flores ao funeral de alguém que não respeitei em vida? De que serve ser bom para os pobres no Natal e evitá-los durante o resto do ano?

De que serve comemorar o Advento, celebrando-o se não viver de acordo com essa opção?

O Advento é um tempo de preparação para o encontro com Jesus no final do nosso tempo na Terra e para a comemoração da primeira vinda do Filho de Deus, há dois mil anos. Se cumpro o tempo de Advento com muitas rezas, muitas leituras e reflexões e isso não se torna visível na minha vida, se morro durante ou fora do Advento, e apenas tenho para levar ao encontro do Senhor a vergonha do que foi a minha vida, para que serviu o tempo perdido na comemoração do Advento. Afinal, eu dizia que me estava a preparar, mas era apenas garganta.

O texto que a seguir reproduzimos é da autoria de Jorge Almeida, visitador e ministro extraordinário da comunhão na altura dos acontecimentos, corria o ano de 2001, no Hospital Curry Cabral. Seremos eternamente gratos pelas suas doces palavras que de algum modo foram bálsamo para a nossa dor.



É noite. E como todas as noites ao rezar o terço em família, peço a Maria, Nossa Mãe, que interceda junto do seu Filho, Jesus Cristo, que nunca hesitou em aliviar as doenças e enfermidades daqueles que Lho pediam, por todos os doentes, especialmente pelos que visito. Um a um, todos vão passando na minha mente duma maneira muito viva. Mencionando os seus nomes, recordo o seu sofrimento.

O hospital é um lugar privilegiado para testemunhar a bondade, o altruísmo, a sensibilidade.

É isso que quero fazer hoje. Hoje, lembro-me muito em especial duma jovem doente, a quem chamarei Maria.

Maria faz no hospital 26 anos. Festeja-os rodeada do carinho de seus familiares e confessa-me que nesse dia se sente particularmente feliz. Perto dela, sinto a presença do Deus do Amor, da Bondade e da Ternura. Esse Amor que se revela e contagia todos os que com ela privam, médicos, enfermeiras e outro pessoal. Nunca se queixa, apesar da grave doença que a afecta há já 18 anos. Tem sempre uma palavra de encorajamento para os outros doentes, comentando que alguns estarão bem pior que ela.

Pertence a uma família profundamente católica que a rodeia cheia de carinho.

Perto dela redescubro e sinto reforçada a minha fé neste Deus da Vida e do Amor que caminha connosco e dá sentido e profundidade ao nosso quotidiano.

No Hospital é-lhe prestada assistência espiritual, através da Capelania, comungando diariamente. Encontramo-la rezando com outros doentes e muito preocupada com o trabalho e sacrifício que está a causar a toda a família.

Numa madrugada de terça-feira, depois de perguntar a uma funcionária do hospital que se encontrava junto dela, se sabia orar, diz-lhe serenamente: - então reze comigo, por mim e pelos outros.

Fico a pensar no Cristo que está em cada doente e sofre com ele. Nesse Cristo que nasceu, sofreu, morreu e ressuscitou por nós. “Vinde a mim vós que estais cansados e de coração oprimido e Eu vos aliviarei”.

Maria não sofre mais!

Jesus Cristo continua a nascer, a sofrer, a morrer e a ressuscitar em nós e connosco!



Comemoremos e celebremos o Advento, mas apenas na medida em que sirva para o vivermos em cada dia da nossa vida. Que vivamos em cada dia um dia de Advento, preparando o encontro com o Senhor que pode chegar em qualquer terça-feira ou noutro dia qualquer.

Um modo simples de prepararmos esse encontro é, perante o perigo, a dor, o sofrimento, invocar a ajuda de Deus, rezar serenamente, em vez de gritar toda a ira e as imprecações que em nada aliviam a alma, nem aportam felicidade.

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