segunda-feira, 8 de junho de 2020

Não foi Deus que decretou a guerra no Médio Oriente


Judeus, cada um dos grupos político-religiosos, egípcios, libaneses, jordanos, sírios, turcos, iraquianos, curdos e muitos grupos, tribos e seitas da região do Médio Oriente, não se entendem. Lutam e tentam com desespero exterminar-se mutuamente. Matar alguém de uma nação vizinha é considerado um acto heróico. Os muçulmanos até premeiam com a felicidade eterna quem morrer a matar alguém dessas nações vizinhas, ou mesmo de algum grupo de muçulmanos diferente do seu.

Por quê?

Esta guerra fratricida, pois estes povos têm imensas afinidades, é uma das causas da instabilidade entre as nações do mundo. Aparentemente, todos os países do mundo gostariam que a paz se estabelecesse no Médio Oriente. Mas só teoricamente, pois a guerra, seja ela qual for, é muito conveniente para muitos mal intencionados, entre os quais se destacam os fabricantes de armas, donos de laboratórios que precisam de experimentar novos produtos químicos e biológicos, quase à maneira dos campos de concentração nazis, mas também as jazidas de petróleo que infestam aquela zona abençoada por Deus e amaldiçoada pela estupidez humana.

Há 3 ou 4 mil anos atrás, eram muitas mais as culturas que existiam na região e já lutavam entre si. Como nos nossos dias, a desculpa era Deus. Lutavam porque Deus queria. Matavam homens, mulheres, crianças, torturavam, decepavam, faziam experiências genocidas, e invariavelmente atribuíam as culpas a Deus. Alegavam que Deus chegava a matar, quem perdoasse o inimigo e lhe preservasse a vida, de acordo com documentos escritos da época, a maior parte incluídos na Bíblia.

O relato bíblico atinge um dos limites quando trata da ida para as guerras em termos idênticos aos que hoje utilizamos quando nos referimos à partida para gozo de férias.

Deus, que se revelou a Abraão, ou no modo como é adorado por diferentes culturas e religiões, por definição do conceito de Deus, é o Criador de tudo o que existe materialmente, espiritualmente ou conceptualmente, é o Autor do Universo, foi quem esculpiu a humanidade, fez tudo a partir de Si próprio, porque nada mais existia. Como pode a omnipotência negar-se a Si mesma? Deus não deseja, não ama, não quer a guerra, independentemente do nome que lhe atribuirmos. E sem dúvida, se Ele é o nosso Autor e nos esculpiu e deu forma a partir de Si, tem de nos amar, ansiar pelo nosso bem-estar. Admitir que Deus deseja o mal de alguém, seja a morte ou outra forma de maldade, é já adoptar uma atitude negativa e ofensiva contra Deus, negar Deus e a plenitude da sua obra, o Cosmos, os sentimentos, o amor. Se as galinhas, as baratas, os mosquitos, as feras e os animais domésticos, cuidam dos seus, como poderia Deus ser menos que estas criaturas?

A Bíblia, na totalidade ou em algumas das suas partes, é o livro sagrado para milhões de pessoas, desde há muitos séculos. Não é possível pô-la em causa, porque nem sequer faz sentido, mas é necessário compreender o que ela contém e o sentido do que nos transmite.

O seguinte parece ser um caso extremo para nos fazer reflectir sobre a Bíblia, os seus conteúdos, e a Palavra de Deus que está impressa pelos homens, por um lado, e aquilo que o Criador nos quer transmitir e ensinar.

2º Livro de Samuel, início do Capítulo 11:

- Na mudança do ano, quando os reis costumavam sair para a guerra, David mandou Joab, os seus guerreiros e todo o Israel. Eles foram, massacraram os amonitas e sitiaram a cidade de Rabá.

Como atrás referimos, havia uma época do ano em que os reis costumavam sair para a guerra. Lendo esta frase no contexto, percebe-se que os homens, os judeus e os seus amigos e inimigos, atribuem a Deus (qual deus? O de uns ou o dos outros?) a necessidade de guerrear. Muitas outras passagens nos deixam envergonhados, se ligarmos apenas às letras impressas, pois elas não correspondem à Verdade. Sou cristão e católico, mas também sou criatura humana, por estas razões, acredito no Deus que Jesus veio revelar para completar as Escrituras Sagradas e que o Espírito Santo veio depois fazer-nos compreender. Se matar é pecado, como poderia Deus mandar matar? Não mandou, não manda, nem mandará. É a dureza dos nossos corações que deseja matar, que odeia, que aspira por vingança, que quer matar e dar as culpas a Deus. Não é assim que começa a narrativa bíblica? O homem diz que foi a mulher que o seduziu para o pecado e ela desculpa-se com a serpente que a tinha aliciado. Se a serpente fosse como nós, arranjaria maneira de deixar em testamento para a posteridade que foi Deus que lhe tinha dado essa ordem infame.

 

O Salmo 23 inspira a confiar plenamente em Deus:

 

O Senhor é o meu pastor.

Nada me falta.

Em verdes pastagens me faz repousar;

para fontes tranquilas me conduz,

e restaura as minhas forças.

Ele me guia por bons caminhos,

por causa do seu nome.

Embora eu caminhe por um vale tenebroso,

nenhum mal temerei, pois estás junto a mim;

o teu bastão e o teu cajado deixam-me tranquilo.


O relato evangélico da prisão de Jesus explicita que matar, mesmo em legítima defesa, não é do agrado de Deus:

 

Evangelho segundo São Lucas, Capítulo 22,47-51

Na frente vinha Judas, um dos Doze. Ele aproximou-se de Jesus e saudou-O com um beijo. Jesus disse: «Judas, é com um beijo que atraiçoas o Filho do Homem?» Vendo o que ia acontecer, os que estavam com Jesus disseram: «Senhor, vamos atacar com a espada»? E um deles feriu o empregado do sumo

sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus ordenou: «Parai com isso!» E, tocando a orelha do homem, curou-o.

 

Evangelho segundo São Mateus, Capítulo 26,52-53

 

Jesus disse ainda ao da espada: «Guarda a espada na bainha. Pois todos os que usam a espada, pela espada morrerão. Ou pensas que Eu não poderia pedir socorro ao meu Pai? Ele mandar-Me-ia logo mais de doze legiões de anjos. 

 

E nós? Queremos ser como Deus? Reclamemos a nossa herança de filhos de Deus que Jesus nos deixou para ti, entregando-a nas mãos dos Apóstolos e que podemos ler no Evangelho de São João, 20, 19:

 

 - A Paz esteja convosco.

 

 

Orlando de Carvalho

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